quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Orgulho acadêmico: a “erva daninha” da filosofia.


Quando adentrei a sala de aula da universidade pela primeira vez, eu estava sedento por conhecimento. Porém, minha ilusão durou pouco. Em menos de uma semana eu ouvi ao menos uma centena de perguntas, dentre as quais, somente umas três eram sensatas. Não é culpa de quem prestou o vestibular, mas dos próprios acadêmicos que definem a filosofia ao seu bel prazer, e da imagem vulgar de uma dialética non sense praticada pelos supostos “filósofos” que deixa nas pessoas comuns uma imagem distorcida da filosofia. A cada dez pessoas (externas ao curso) com quem converso, nove acham que na sala de aula discutimos sobre “a cadeiridade da cadeira”, ou seja, a qüididade de uma forma claramente distorcida. Outros, senão os mesmos, crêem veementemente que tudo é relativo, todo pensamento é valido, e não existe conhecimento efetivo acerca de algo; neste caso, reconheço o perspectivismo de Nietzsche depois de atropelado por uma manada de mastodontes.

Houve uma época em que ser filósofo era o mesmo que ser virtuoso. Na Grécia antiga o escravo trabalhava e o senhor tinha todo o tempo que quisesse e aguentasse acordado para filosofar. Mas o filósofo também é humano e precisa se alimentar. Assim sendo, se não tem quem trabalhe para ele, trabalha para se sustentar. E a única coisa que pode fazer para tal é se tornar professor. Mas o real problema surge quando alguns acéfalos pensam que ser professor de filosofia é uma boa profissão para sustentar a esposa e os dezoito filhos.

O acadêmico de filosofia, quanto mais produz (agora temos “cota” de pelo menos dois artigos por ano), mais ganha. E quanto mais discussões se ganha humilhando o adversário, mais brilhante a academia considera o grande pensador.

A filosofia como busca da verdade ficou esquecida em algum lugar do passado, enterrada com os antigos. Com a “filosofia” medieval buscou-se modelar o pensamento de acordo com os dogmas da Igreja, era proibido pensar na não-existência de Deus ou em algo que fosse contra os dogmas da sacrossanta igreja, nem diálogo havia. Mas após a era das trevas, o que noto ao estudar a história da “filosofia” é que sempre que aparece um gênio que nos dá alguma luz, aparece também um paramécio em busca de fama para “refutar” o pensamento do primeiro. Ora, se a filosofia consiste na busca pelo que é verdadeiro, seria mais adequado que os pensadores colaborassem mutuamente para o desenvolvimento do conhecimento, senão da humanidade.

A definição do termo “filosofia” que julgo mais adequada é: conhecimento pré-científico (essa definição será explorada mais adequadamente em uma postagem futura, no momento sirvo-me dela unicamente para melhor ilustrar o que tenho a dizer), cujo principal trabalho é desenvolver definições precisas – pois não se pode pensar sem conceitos – para as diversas ciências e artes. Mas atualmente, na maioria das vezes, ao invés de se utilizar a linguagem como uma importante aliada, faz-se dela a pior inimiga. Esbarra-se também na questão do estilo de escrita, ou melhor, na maioria dos casos dá-se com a cara na parede. Alguns adoram ser dialéticos e se perderem no infinito de suas próprias alucinações. Outros erraram o caminho do ateliê e insistem em confundir filosofia com arte. Com isso não quero dizer que não possa haver arte na filosofia (pois em filosofia pensa-se o “Belo”), mas sim que esse não é o objetivo da temática filosófica, sobretudo quando “brinca-se” de tornar o texto mais poético e elegante, comprometendo irremediavelmente a compreensibilidade do mesmo.

E nesse contexto surgem as mais violentas contendas por mérito acadêmico. Fazem-se incontáveis textos sobre temáticas já exaustivamente trabalhadas, que não levam a lugar algum, mas que por conta de “mostrar para a turminha” a incrível capacidade de obscurecer um texto, multiplicam-se ad nauseum”.

E se não bastassem os professores a fazerem essas bizarrices, os inocentes alunos de graduação fazem suas incursões nesse execrável caminho tão logo sintam suas bolsas de iniciação científica ameaçadas por outrem. Lastimável, porém, a mais dura realidade!

E para sustentar o orgulho de “academias”, ou seja, defender timinhos, organizar panelinhas (na linguagem popular), criou-se a “tradição filosófica”. Todos concordam que filosofia não trabalha com dogmas. Mas pelo menos aqui no Brasil, dá-se um “jeitinho brasileiro” para contornar tal problema: troca-se a palavra “dogma” por “tradição filosófica”. Pronto, agora quem ousar ir contra a “tradição filosófica” vai ser execrado, não vai ganhar bolsa, e não vai ter seu artigo publicado em revista, ponto final.

O resultado é que a universidade se transforma em campo de batalha, e verdadeiros “Hooligans” da filosofia são criados todos os dias. Se não se segue o padrão, os Hooligans certamente manifestarão seu ódio em textos amargurados e terrivelmente intrincados, cheios de palavras difíceis, estilosos, senão pomposos, e principalmente: incompreensíveis.

Tendo aqui descrito (ainda que brevemente) a atual situação constrangedora por que passa a nossa Filosofia e visando atingir meu objetivo (a reflexão acerca do assunto abordado), termino minha exposição com o seguinte questionamento:

Por onde anda o “amor ao conhecimento”, a sede pela verdade, e a virtude do “filósofo” atual? No bolso eu sei que não está...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Apresentação

O presente espaço tem a proposta de levar a conhecimento público o conteúdo de algumas reflexões e estudos que tenho realizado ao longo de meu curso de graduação em Filosofia. Estando eu na reta final do curso e preparando-me para apresentar um projeto de mestrado ao final do presente ano, logo após a apresentação da monografia, eis que de repente me passou pela cabeça que até agora eu nada havia publicado e nem apresentado a alguém que não fizesse parte da minha equipe de professores. Então, em caráter de urgência, resolvi criar este espaço para poder compartilhar alguns de meus pensamentos com o público em geral, verificar qual o nível de aceitação do mesmo e angariar comentários e críticas construtivas.

Os textos aqui postados são meramente exercícios de escrita com a finalidade de eu poder evoluir como escritor (mesmo que principiante), adquirir algum traquejo e, consequentemente, uma melhor qualidade em minhas exposições. Não tenho a mínima intenção de plagiar qualquer trabalho já escrito, visto que todo o conteúdo aqui postado tem relação direta e única com meus estudos e pensamentos particulares, citarei qualquer fonte de que eu venha a me utilizar e caso venha a existir alguma similaridade com algum trabalho anterior ao meu, basta me informar que em caso de impossibilidade de coexistência de ambos apagarei imediatamente a postagem.

Este é um espaço aberto para críticas. Toda crítica será bem vinda, desde que seja construtiva. Eventuais ofensas particulares ou crises de raiva incontida e/ou injustificada serão automaticamente deletadas e me reservarei no direito de não responder. Utilizarei-me por vezes da linguagem culta, mas cuidarei particularmente em deixar o texto mais interessante, o que implica necessariamente no uso de uma linguagem bem humorada, eventuais gírias, expressões de cunho popular e até mesmo anedotas.

O que aqui escrevo pode provocar reações muito diversas, portanto, procurarei ser o mais claro possível em tudo que eu expuser, contudo, caso isso não ocorra conto com a ajuda do leitor para melhorar a minha exposição.

Possuo profunda admiração e respeito pela filosofia e escritos do grande filósofo alemão Arthur Schopenhauer, e parte do meu estilo devo à leitura dos textos desse grande gênio. Consequentemente tenho uma visão anti-dogmática ao extremo, e em nenhum momento estarei expressando minha ultima palavra acerca de qualquer assunto que seja, até porque, viver é estar em constante transição e evolução de pensamentos.

Não me preocuparei aqui com o padrão acadêmico, pois artigos desse tipo serão reservados exclusivamente para o ANPOF e eventuais colóquios. Contudo, por respeitar o leitor, seu precioso tempo, e a atenção a mim dispensada, farei sempre o melhor que puder.

Por fim, considero adequado lembrar o princípio de razão suficiente: “nihil est sine ratione” (nada é sem razão).

Ao leitor de boa vontade e desprovido de dogmas, uma ótima leitura. Ao pseudo-intelectual, uma excelente viagem para a “cucolândia das nuvens”.

Sapere aude!